domingo, 30 de março de 2008

Quantas mãos são precisas?

"Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas."
Cecília Meireles

Ora, ora...
(ou devia dizer oinc?)

...tenho um porquinho que é a minha cara...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Pela Primavera...

...porque nem tudo é chuva e frio.


"No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta"
Cecília Meireles

Já dizia o António....

Depois de cinco noites seguidas com poucas horas de sono, eu, que já há muito não conhecia insónias, decidi vencer-me a mim própria pela cansaço.
Procurei o material guardado há meses, e saí para o frio, até me esquecer das outras dores para sentir só as do corpo.
Tenho esperança que isso sossegue os fantasmas, que cale as suas vozes, e que durma hoje descansada.

Remar remar

"Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas

Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Nada me diz

Berras às bestas
Que te sufocam
Em braços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor

Remar remar
Força a corrente
Ao mar, ao mar
Que mata a gente"
Xutos & Pontapés


Não é a primeira vez que me encontro de remos na mão, a tentar a todo o custo subir o rio, como se fosse um salmão em luta pela sobrevivência da espécie.
Apesar de tudo, baixar os braços não é o mais fácil.

Gostava de explicar porquê, mas não posso.

sábado, 22 de março de 2008

Telefone avariado

Talvez não seja difícil escrever as palavras certas, mas é difícil acreditar que serão lidas como as sinto.
É o risco da comunicação, aquilo que tentamos transmitir nem sempre chega nas melhores condições ao outro lado.

Às vezes tenho a sensação de estar a meio de qualquer coisa.
Percebo com clareza de onde vim, mas não sei onde estou nem para onde vou.
E em determinados momentos parece-me que há qualquer coisa que está mesmo à minha frente e que não consigo ver. Sei que está, em breves instantes quase lhe adivinho os contornos, mas depois não consigo ver.

É frustrante, porque acho que é simples (mas não necessariamente fácil), deve bastar um click... e resolvia tanta coisa.....

quarta-feira, 19 de março de 2008

Vira o disco...

...e toca uma diferente, por favor.

segunda-feira, 17 de março de 2008

#/&%!!!##

pela terceira vez no curto espaço de seis dias deixei queimar o que estava a cozinhar

fico contente por não ser rapariga de dizer grandes asneiras
assim o blog está cheio de palavras lindas como xiça, rais'coma, e afins...

diários (ou quase) - parte x

"Quando olho à minha volta percebo que é verdade.
A maior parte das pessoas conseguiu a sua estabilidade, a sua felicidade, a sua forma mais suave de estar na vida à custa de algum egoísmo.
E entro novamente nas considerações que fiz , acerca de crescer, ser mais feliz e mais egoísta.
Dou por mim, de repente, quase a não querer ser feliz se isso implica perder ainda mais vezes do que perco a noção do que se passa à minha volta."

05.01.2008


Serve-me de alguma coisa, esta teimosia?
(a juntar ao egoísmo que também tenho)
Teimosia, assim mesmo, porque é de quem bate com a cabeça mil vezes e insiste em continuar a bater...

Teimosia, masoquismo burrice, orgulho?....
Em todo o caso, defeitos.

Sempre defeitos.

[adenda: e eu sei que é fácil apontar defeitos, mais difícil é saber sempre como agir correctamente...]

domingo, 16 de março de 2008

Eu tenho um fraquinho pela América do Sul



As paisagens, a música, o clima, os corações...

Às vezes pergunto-me o que é que ainda estou aqui a fazer.

Poema triste

"Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram –
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique –
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste um dia que chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar."
Maria do Rosário Pedreira

Eu ainda não quero ir-me embora, o que me leva a pensar que há uma réstia de esperança a guiar-me de um sítio qualquer. Só não sei que sítio é esse......

xiça!

poucas coisas são tão difíceis como sentir a falta de alguém que está ali, mesmo ao nosso lado....

sábado, 15 de março de 2008

estou indecisa entre as verdades e os ouvidos de passagem

"o amor é uma longa paciência"
Eugénio de Andrade


(e eu, com tanta paciência para algumas coisas, e tão pouca para outras...)

sexta-feira, 14 de março de 2008

que é como quem diz...

...vai-te embora, ó papão!

pain killers



é preciso um sorriso franco, aberto, brilhante, que vá além dos lábios
é preciso uma mão que apanhe a outra antes que se esgote o gesto de estar pendente no fim do braço esticado
é preciso um silêncio suave a cercar-nos, a juntar-nos
é preciso cumplicidade
é preciso intimidade
é preciso um olhar intenso que atravesse cada camada da pele, que se segure e perdure
é preciso um só porque sim
é preciso dois braços a fechar um corpo, outro corpo que se encoste e aperte
em suma, é preciso um abraço

é preciso um poema que se erga assombroso
e esmague as dores


para não ceder ao cansaço, para continuar a acreditar... para querer acreditar.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Da série vejam que vale a pena



Não necessariamente por esta ordem, embora tenha, definitivamente, gostado mais do Vermelho. E acho que faz algum sentido que seja o último...

Dúvida #?

O egoísmo é condição sine qua non para se atingir a felicidade?

Íssimo #2

Há momentos em que me sinto cansada, em que me falta a energia, as forças necessárias para acreditar que é possível...

Não é a primeira vez que passo por isto.
Será a última?...

terça-feira, 11 de março de 2008

É terça-feira...

"É terça-feira
e a feira da ladra
abre hoje às cinco
de madrugada

E a rapariga
desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas
ao desbarato
vai vender
juras falsas
amargura
ilusões
trapos e cacos e contradições


É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração é incapaz de dizer
"tanto faz"
parte p´ra guerra
com os olhos na paz"
Sérgio Godinho

domingo, 9 de março de 2008

Cá está.....

"Habituar-se a impor-se regras, limites, fronteiras, na convicção plana de tudo se ir tornando mais simples a cada prova subjugada, para depender menos a cada dia, para deixar de tomar garantes das pessoas e das expectativas e das coisas. Embalar um striptease lento e gradual, exfoliando as camadas que deixámos acumular sobre a derme. Reduzir ao singelo, ao seminal, ao seminu. Não possuir para não perder, não experimentar para não precisar. Respirar apenas, sem apneias ou aplestias."
do Complicadíssima Teia (via Little Black Spot)

Cromo repetido

"Ama-me quando eu menos merecer porque é quando mais preciso"
(não sei quem escreveu)

É (ou era?) agora....

Anestesia

Devia ter feito muita coisa que não fiz.
Passei todo este tempo a anestesiar-me da única forma que sei: isolando-me.
Sei que não resolve nada, estará até a degradar mais (é possível?...) algumas construções que me são essenciais, mas não estou a ser capaz de agir de outra maneira.

Parestesia

Para que servem as coisas que sentimos, se os gestos, os olhares, as palavras saem errados, nos momentos errados, sempre, sempre errados?...

sábado, 8 de março de 2008

Espantem-se!

Parece que este blog sobrevive há exactamente quatro anos.
Sobrevive é, definitivamente, a palavra certa...
Já esteve suspenso, às vezes por um fio, mas depois aguenta-se sempre. (é mais ou menos como eu própria, vá-se lá perceber estas coincidências!)
E numa missão de arquivo recuei um pouco no tempo, serve isto também para eu me manter a par das minhas próprias avarias emocionais. E percebi que não são avarias: são defeitos de fabrico, impossíveis de reparar sem uma peça nova que, a esta altura do campeonato, já não se pode criar.

Não é, por muitos motivos, uma data a celebrar, mas também não é para chorar.

Pode parecer que estou novamente no ponto de partida (e de certa forma estou mesmo), mas muita coisa andou, muita coisa cresceu, muita coisa mudou... e nem tudo se tornou pior.

Espantem-se com isto......

quarta-feira, 5 de março de 2008

Do que se espera e do que se aceita

É uma pena que não seja capaz de fazer com a minha vida aquilo que insisto em fazer com determinados espectáculos e filmes: ir sem expectativas.

O aceitar fácil (tão sobejamente discutido neste blog de quinta categoria) passaria certamente por aí...

Borboletas



Vi este filme como gosto de ver filmes: sem expectativas.
Talvez por isso tenha gostado. Tocou-me, mesmo sem saber que se baseia em factos reais...

Não perca o próximo episódio
se o houver......

- Sabes, disse-lhe, lembras-me alguém que conheci há muitos anos.
No coração dele aquela frase ressoou, bateu em quantas paredes havia daquela casa que julgava segura... Gaguejou um porquê surdo.
- O Plínio foi uma das primeiras pessoas que conheci quando cheguei à Cidade Velha. Acho que tinha, nessa altura, 18 anos. E ele tinha a mesma idade. Jovens cheios de vontades e ideias... Não sei de onde veio a cumplicidade, mas aos poucos foi-se materializando. Gostávamos de ler os mesmos livros, gostávamos de sair à noite, fazer jantaradas com amigos e depois ir dançar. Caramba, e o Plínio dançava bem! Música brasileira ou espanhola, quando me segurava pela cintura a sala perdia os contornos, esvaziava-se e éramos só nós, a música, o ritmo certo, as respirações sincronizadas... Gostava de lhe chamar "o meu terramoto", porque quando ele se aproximava as minhas estruturas vacilavam, tremiam, e eu sentia que me caíam todas as defesas. Os dias eram leves e perfeitos, se calhar como estes que vivemos agora. Mesmo antes das férias passámos a noite sozinhos, explorámos as nossas vidas, ele levou-me a casa de mão dada e despediu-se com um beijo. Estivemos dois meses sem falar (ainda não havia telemóveis...). Sim, acho que terão sido dois meses. Quando voltámos ao trabalho soube que ele tinha uma namorada nova. Fiquei triste, mas alguma coisa dentro de mim me disse que ainda não era o fim daquela história. Depois, nesse mesmo ano, conheci o Simão. Gostava dele, mas era um gostar mais calmo e sereno. O Simão fazia-me sentir segura. Bom... Talvez demais... Cercou-me por todos os lados, aparecia em minha casa sem ser convidado, interrompia o trabalho só para me dizer olá, raramente saía à noite sem tropeçar nele. Acabava sempre por me levar a casa. Finalmente cedi. A relação não durou muito. Nessa altura estava cheia de trabalho, mal comia, era um prato de sopa e uma sandes empurrada à pressa para dentro da boca. Nunca lhe dei a atenção que ele merecia, nunca me empenhei a sério no que havia entre nós. Antes do Natal, no mesmo dia em que lhe dei a prenda, acabámos. A gota de água foi o Plínio. Depois de estar sem o ver meses, apareceu-me de repente à frente no convívio de Natal do emprego, e puxou-me para dançar. O tempo nunca tinha passado entre nós... Logo que pude escapei-lhe e chorei mais do que em qualquer outro dia da minha vida quando me despedi do Simão.
As coisas acalmaram dentro de mim, nem Plínio nem Simão, só trabalho e trabalho, e umas pausas pelo meio. O Plínio ia contando as miúdas que lhe passavam nas mãos, quando estava triste ligava-me. Sentávamo-nos num nicho que há na parede da Biblioteca, lá fora, e falávamos até ser dia. Ele contava-me tudo o que havia para contar e eu fazia o mesmo. As palavras nunca acabavam entre nós...

Gestos

Demorei três dias a enviar a mensagem.
As dúvidas eram as habituais: incoveniente, devo, não devo, será lida como a escrevo....
No fim venceu o último filtro, e fiz como gostava que me fizessem a mim.

A resposta foi pronta:"Obrigada. Não me incomoda nada. Estaremos juntas não só nas tristezas mas também nas alegrias."

De certa forma comoveu-me... Não o meu gesto, mas a forma como foi recebido.
Porque pela primeira vez em muito (muito....) tempo consegui uma decisão acertada no momento certo. E porque é verdade que certas relações, se levadas a sério, são mesmo assim, um compromisso assumido para o bem e para o mal.
Sentir que alguém vestiu a nossa camisola é reconfortante.
Dá vontade de virar o mundo ao contrário para merecer usá-la....

domingo, 2 de março de 2008

Sentir é estar distraído

Talvez esteja na altura de eu tentar distrair-me com outras coisas....


"Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão –
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva.
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído."
Alberto Caeiro