quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Fim do dia

Cheguei tarde, eu sei.
O dia foi incrivelmente longo, sem mãos a medir, e o corpo não tem posição de alívio.
Subo depressa as escadas, atiro a roupa suja das desgraças para o cesto e abro a torneira. Aos poucos sobe um vapor branco, suave, que penetra nos poros e abre na cabeça uma frincha de descanso. Mergulho na água quente. De costas deixo a espuma lavar tudo, devagar esfrego os desesperos, a falta de paciência para as pequenas coisas sem importância, e começo a sentir-me levitar.
Quando saio o corpo está lavado e vermelho, os músculos relaxaram de calor, e da pele liberta-se mais do nevoeiro que me tolda os olhos.
Seco-me de lágrimas.
O pijama canta músicas de Natal, nas meias sorri-me um boneco de neve.
Levanto o lençol.
Não me abraças com força, mas a simples presença do teu peito onde pouso a cabeça, e do peso do teu braço sobre mim traz-me paz, o sono reparador e acompanhado da tua presença, da tua existência, de ti.

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