sábado, 17 de novembro de 2007

diários (ou quase) - parte x
[ou: a personagem principal da minha vida não sou eu :b]

"A viagem aproxima-se do fim, e, ao contrário do que costuma acontecer, não tenho sentimentos definidos em relação a isso.
Se por um lado tenho medo do regresso às rotinas e ao buraco negro em que me estava a fechar aos poucos, por outro tenho alguma vontade de voltar, quase uma impaciência, como se já não houvesse mais nada para ver aqui.

Sei que isso não é verdade: havia muito mais para ver aqui.
A questão é só a do costume: o que faz toda a diferença em tudo o que faço, vejo e sinto......


E neste sítio bonito, numa realidade tão distante da que vivo no dia-a-dia, as minhas considerações são as mesmas. E talvez isso, mais do que qualquer outra coisa, esteja errado.

Devia aproveitar esta água que se atira da montanha em queda livre para me lavar, deixar que o barulho ensurdecedor que faz ao ruir nas pedras me chegue pelos ouvidos à alma, sentir o seu cheiro vazio, insípido e límpido, e conduzi-lo pelas narinas, faringe, laringe, brônquios, bronquíolos, alvéolos, gás no sangue, oxigénio novo para o meu coração cansado, que bateu até ficar com a língua de fora só para que eu pudesse chegar hoje aqui, onde estou neste preciso instante: numa ponte de metal sobre uma cascata que desagua na grande mãe. De pé, mas sempre pouco segura nas minhas próprias pernas, dentro do meu próprio corpo, apesar do aspecto robusto que passo em pose atlética, de mochila às costas e botas de montanha."

03.11.2007

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