terça-feira, 20 de abril de 2004

E isto foi um sonho...

Numa cidade movimentada, daquelas imensas, onde as pessoas se atropelam por entre o trânsito infernal, uma pequena alma estava deseperada. Saída há pouco de casa, estava completamente perdida na vida, e pior ainda: estava sozinha.
Ao cruzar uma esquina deparou-se com uma livraria, portas abertas, e decidiu entrar.
Lá dentro o ar estava calmo, silencioso, e à sua frente havia um espaço que convidava à exploração: estantes a vibrar com letras, histórias, novidades, vida.... Lembrou-se de alguém que conhecia e dirigiu-se à secção infantil.... Em busca do sonho.
E ao folhear um livro deparou-se com a ilustração de um homem ainda novo, um jovem índio, que se afundava nas profundezas de um mar verde escuro. Tinha um olhar desesperadamente calmo, como que de resignação por se juntar aos seus antepassados perdidos, e ela, ao ver aquela imagem, não resistiu a tocar-lhe na mão estendida, morena...
E então algo insólito se passou: sentiu-se a flutuar e ao olhar para baixo lutava com o peso morto desse desconhecido, para o trazer à superfície, agarrando firmemente a sua mão... E conseguiu. Ao seu lado encontrou uma jangada (toda a gente sabe que os índios usam canoas....) e conseguiu içar-se, e depois ao índio.
Não sei o que se passou entretanto, mas o tempo foi correndo e o dia longo estava a chegar ao fim. Em casa daquele homem, uma cabana perdida entre folhagem densa, junto à praia, começava agora a anoitecer, e depois do calor do encontro, ela estava com frio, tinha sono. E estava de novo sozinha.... Percorreu as divisões escuras à procura do conforto que lhe tinha dado aquele desconhecido, até sentir o pêlo de um animal debaixo dos pés: um tapete? Ao pegar-lhe descobriu tratar-se do que restava de um animal há muito desaparecido naquele sítio, a julgar pelo sol que tinha sentido durante o dia... E embrulhou-se naquela pele esquecida, adormecendo no mesmo instante....





Os dias passaram. Naquela livraria imensa está um menino, que procura a prenda prometida. Gosta de animais, e há aqueles livros engraçados, com a forma de um leão, ou com a forma de uma ovelha.... Alegre, pega no que mais lhe agrada: tem a forma de um urso polar. E qual não é a sua surpresa quando, ao abri-lo, encontra lá dentro uma menina, jovem, a tremer de frio......

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