sábado, 29 de dezembro de 2007

Se me abraçares, não partas.

"Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas."
Maria do Rosário Pedreira

porque todos mudam, até a surda muda*
mas eu não

o balanço deste ano ficará para o ano que vem

* não sei de quem é esta linda frase, mas não é minha....

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Suspenso

Quando comecei a escrever o blog nem sabia bem o que era um blog, por isso não havia propriamente um projecto para as minhas lembranças.
Aos poucos este tornou-se o espaço onde fui deixando o que li e o que ouvi, e muito do que senti.
Ninguém vinha à minha procura, por isso ninguém se sentia defraudado por não me encontrar.
E eu escrevia livremente, porque sabia que mantinha uma versão pública, e ao mesmo tempo privada dos meus livrinhos.

Claro que, em última análise, as coisas escritas só ganham forma depois de lidas, e aí residia a principal vantagem de tudo isto: o que eu escrevia era lido e eu sabia-o, só não sabia por quem.
(e "quem" não sabia quem eu era...)

À medida que o tempo passou fui partilhando este espaço com as pessoas que achei que poderiam, de alguma forma, chegar mais perto através das minhas palavras. A algumas dei deliberadamente este endereço, outras descobriram-no por acaso ou porque o procuraram. Apenas num caso não ponderei a partilha, em todos os outros resisti muitas vezes à vontade que tinha de dizer que escrevia aqui, até finalmente não conseguir resistir mais.
E comecei, lentamente, a escrever de forma diferente, às vezes quase a disfarçar o que que queria dizer no meio de metáforas e palavras vagas que só eu seria (ou não) capaz de entender. E comecei também a esperar que me viessem ler, a presença de pessoas mais próximas não é algo de que me possa simplesmente abstrair na maior parte das vezes que escrevo. Às vezes isso faz diferença, outras vezes não faz. Mas a sensação que tenho ultimamente é que cada vez faz mais diferença.

Parar o blog não foi uma decisão repentina.
Já houve outras ameaças, e esta poderá ser só mais uma.

Não sei se consigo passar sem cá vir...

Mas há muito que não sinto a mesma leveza que sentia antes, quando publicava um post. Às vezes a sensação é exactamente a oposta, porque estou a pensar em como vai ser interpretado aquilo que escrevi...
Por isso, e enquanto algumas coisas não estiverem um pouco mais claras na minha cabeça, e no meu coração, fica esta nota suspensa.

O que acontecerá depois nem eu sei.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

ponto final



encerramos para obras/demolição (ainda em ponderação)
obrigada/desculpem