segunda-feira, 16 de junho de 2008

A poesia da dor

Queria um poema.

Ultimamente mais do que posts estúpidos escritos em catadupa como este, mais do que músicas que ouço repetidamente enquanto lhes esquadrinho as letras à procura do que sinto (saberei o que é?), eu queria um poema.

O tempo dilui-se, às vezes acho que com suavidade.

As pequenas batalhas do dia-a-dia, com as suas pequenas vitórias e as suas pequenas derrotas, ganham pequenas importâncias que se sobrepõem a tudo o que terá o seu grande valor.

E eu, que queria um poema, esqueço-me da poesia da dor e rasgo-me em risos fáceis em resposta a piadas fáceis, banais.
Os dias passam (banais) e subsiste uma calma, uma paz, delicadas, que estalam em crostas dolorosas quando o dia-a-dia se aproxima ritmicamente do fim e é preciso um plano de fuga.
E eu, que alterno os dias em que enfrento os medos com aqueles em que me rendo a eles, fujo, quero muito fugir, porque sei que estou a travar uma guerra em que eu sou a minha única e fiel inimiga.

Os outros partiram, já, observam-me de longe, do outro lado dos campos que apenas para mim se mancham de batalhas.
Nos seus olhos leves, alegres, há flores, há praias com sol, há mares azuis.
Nos meus há a angústia de quem vê chegar o verão sem um plano de fuga.

Eu, que queria um poema, talvez devesse desejar um mapa.

Pé à frente de pé, olho feito máquina que tenta olhar um outro horizonte.
Será diferente?
Será o meu horizonte diferente?
Não consigo achá-lo igual.

E nos olhos o mar, e a areia branca ou levemente amarela, áspera nos pés, na pele que a agarra às mãos cheias.
E nas mãos a areia, a água que escorre e que é tempo, tempo que eu queria para os meus olhos, para que eles não sentissem.
Para que vissem apenas...
Tempo para eu desejar um poema pelo poema, e não pelas palavras que me escapam com raiva quando ninguém está para as ouvir, não pelo meu coração que bate dor dor, dor dor, dor dor, dor dor...

E fujo.

Aos poucos vou adquirindo pequenos medos, quase fobiazinhas de estimação.

Começo a sentir o ritmo cardíaco aumentar, perco o sono e o apetite, sinto uma espécie de náusea, uma retracção, uma necessidade incontornavelmente física de fugir.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

E ainda dizem que a idade não traz coisas boas...

Ultimamente descubro-me frequentemente a milhas de distância do sítio onde está o meu corpo.
Curiosamente isto, que é inconsciente, acontece mais quando não me agrada ou não me interessa muito o que se passa na minha proximidade física.

domingo, 8 de junho de 2008

As coisas que eu descubro....

Uma semana de noites mal dormidas ajuda a combater o stress.
O meu vizinho usa meias que são a bandeira de Portugal.
Se souber que te vou ver ainda me preocupa o meu aspecto.
Podem fazer-se selos com a nossa cara.

Além do mais, gostava mesmo muito de ter um cão de louça ali no meu corredor.

(pode não parecer, mas é tudo conhecimento útil!)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

e a solução, é qual?

tenho breves momentos de lucidez em que percebo que é muito verdade aquilo que ficou ali em baixo: perde-se a vida a desejá-la tanto.

cresce, cresce



O meu coração é uma maçã: tem quatro buraquinhos lá dentro e um bichinho que o vai comendo devagarinho.
É por isso que às vezes me dói.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Assim disse a minha Aguarelinha

(e que falta ela me faz...)

"Perder um amigo é perder um amigo.
Perder um namorado é perder um namorado.
Eu sinto tudo como um desgosto de amor."

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Perde-se a vida a desejá-la tanto



"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada."
Miguel Torga

domingo, 1 de junho de 2008

Eu e as palavras, elas e eu...

E há alturas em que não sobra nada para dizer.
Pontualmente, ritualmente, obrigo-me a caminhar sobre as letras, escolhendo, como num passeio, as que devo pisar e as que tenho que evitar, jogos infantis em que se perde se se chegar ao fim da linha.
Ou se se calcar a linha?...