segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Aquele abraço*

A lua estava deitada no céu, sorrindo um sorriso amarelado, que era, mesmo assim, convidativo.
Muito convidativo...
Deixei as janelas abertas, para que o ar fresco da noite pudesse limpar-me as imagens dos dias quentes e secos.
As luzes à frente cortavam o escuro monótono dos pensamentos.

Ao chegar sabia que estarias à minha espera... nada mais me faz falta...

Tu... nós... um abraço...
Aquele abraço......

*Gilberto Gil

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

verdade VIII

às vezes falar nas coisas é vesti-las
é dar-lhe cheiro, cor, gosto, consistência

é torná-las reais

Hoje é para ti...

...que vens cá às vezes, eu sei...
(ou imagino que sei, sei lá...)

Ciclos

[bem alto, por favor!]

(porque ando a precisar... (ok, outra vez...)

e porque me agrada deixá-la a tocar para o fim de semana...)

"Well I guess it would be nice
If I could touch your body
I know not everybody
Has got a body like you

But I’ve got to think twice
Before I give my heart away
And I know all the games you play
Because I play them too

Oh but I
Need some time off from that emotion
Time to pick my heart up off the floor
And when that love comes down
Without devotion
Well it takes a strong man baby
But I’m showing you the door

’cause I gotta have faith...

Baby
I know you’re asking me to stay
Say please, please, please, don’t go away
You say I’m giving you the blues
Maybe
You mean every word you say
Can’t help but think of yesterday
And another who tied me down to loverboy rules

Before this river
Becomes an ocean
Before you throw my heart back on the floor
Oh baby I reconsider
My foolish notion
Well I need someone to hold me
But I’ll wait for something more

Yes I’ve gotta have faith..."
George Michael - Faith

Dos fogos e das consumições #2

Não tenho vontade de falar sobre os incêncios, ultrapassam a minha compreensão...
Custa-me que o nosso pequeno e pobre país se esfume assim, e não faço ideia do que posso fazer para que as coisas se passem de outra forma...

Não me lembro da última vez que estive na terrinha.
Bem... lembro-me, mas acho que foi já há muito tempo...

Pela voz de quem lá está, pelas imagens que vi e li, palas palavras que me entraram olhos e ouvidos dentro, senti o calor, as cinzas, o inferno de se estarem a queimar as coisas que trazemos no coração...

(e dói...)

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

portugal arde

e eu aqui na minha redoma

eu
eu
eu
eu
eu

terça-feira, 23 de agosto de 2005

a sombra

café mesa conversas músicas filmes nada tudo

o teu nome

Lembras-te?

Era tarde, mas não queríamos ir para casa.
Ficávamos horas às voltas na cidade, em silêncio, a ouvir aquelas músicas.

Hoje senti falta desse "silêncio" precioso, precisamente quando vinha embora.
Adiei o regresso e andei às voltas.

Eu... a música... tu entre nós...

2

Dei-me conta do número de vezes que te vi este ano

De repente já não me parece um número par.
Parece-me um número .
e triste...

O meu jardim é habitado por quatro fantasmas

São eles que vagueiam noite e dia tapando o sol com os seus trajes negros, gelando o ar com as suas palavras tristes, calando os pássaros com o seu olhar vazio...

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Síndrome de Pós-Férias (SPF)

Este ano o regresso foi bastante mais lento do que o que é habitual em mim - SPF um mês depois...
A explicação que encontro para esse fenómeno é simples: estive afastada do mundo demasiado tempo. Logo em seguida mergulhei nele com toda a intensidade que a viagem exigiu. Só então voltei...

Percebi que o que me incomoda não é o impacto com a realidade: ela não é assim tão dura.
O que me dói agora é só a saída do imaginário.

domingo, 21 de agosto de 2005

no passa nada


sou só uma miúda mimada

que nunca está satisfeita com o que tem


(e é tanto...)

sábado, 20 de agosto de 2005

desperdícios #9

sou a única pessoa que conheço que sente falta das pessoas que tem ao lado

Companhias III

sexta-feira, 19 de agosto de 2005

E gosto do meu cabelo despenteado. E molhado!

Gosto das calças de ganga fininha, puída, gasta.
Gosto das sapatilhas mais velhas que tenho, fora de moda e quase sem sola.

São retratos do material de que sou feita.

desperdícios #8

às vezes sentir alguma coisa por alguém não é um privilégio
é um desperdício

As desculpas não se pedem...

Nestas alturas sinto-me transparente.
E não gosto.

Desato em construções elaboradas de muros que me cercam, e rapidamente desabam.
Sei em cima de quem caem as maiores pedras.

E não gosto.

Uma hora e meia de caminho

Tenho sentido o ar rarear.
Talvez seja dos incêndios, este país transformou-se numa fornalha...
Pelo sim pelo não, decidi sair. Talvez houvesse conversas a meio, talvez não. Peguei no cartão e despedi-me.
Vinha para casa, mas a meio do caminho percebi que a sensação de asfixia aumentava.
Inverti a marcha.
Pus um CD a tocar, continuaria até ao fim das músicas.
No fundo sabia que só queria ir ...
Não se vê grande coisa à noite, mas há o cheiro... o cheiro já é qualquer coisa, não é?

Ignorei por completo que amanhã o despertador toca cedo, que tenho andado cansada e mal-humorada, que há mil e uma cordas invisíveis que todos os dias me impedem de fazer estas coisas que me passam pela cabeça.
Não precisei de ficar muito tempo, talvez dez minutos. Nem saí do carro...
Acho que teria ficado para sempre.
Tive vontade de entrar, de continuar a caminhar até onde a respiração me levasse, de seguir caminho, de andar em frente, rumo ao desconhecido... Mas nessa altura as cordas ficaram tensas. Decidi voltar...

Na viagem de regresso imaginei que poderia ter três pessoas ali ao meu lado. Sei exactamente quem seriam agora. Não sei se serão as mesmas amanhã, ou da próxima vez que voltar esta vontade de ir... Sei que não são as mesmas de ontem. No fundo talvez isso não faça diferença.

Era bom poder ficar só assim, deitar conversa fora, ouvir música, seguir viagem eternamente...

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

Numa versão mais moderna

Queria desfazer-me em pixels.
Ser capaz de sujar o template...

Apetites #4

Queria desfazer-me em tinta.
Ser capaz de sujar o papel...

Onde ir???????

"Eu não sei o que vi aqui
Eu não sei prá onde ir
Eu não sei porque moro ali
Eu não sei porque estou

Eu não sei prá onde a gente vai
Andando pelo mundo
Eu não sei prá onde o mundo vai
Nesse breu vou sem rumo

Só sei que o mundo vai de lá pra cá
Andando por ali
Por acolá
Querendo ver o sol que não chega
Querendo ter alguém que não vem (não vem)

Cada um sabe dos gostos que tem
Suas escolhas, suas curas
Seus jardins
De que adianta a espera de alguém?
O mundo todo reside
Dentro, em mim

Cada um pode com a força que tem
Na leveza e na doçura
De ser feliz.
"
Vanessa da Mata

Excesso de posts

é o básico problema deste blog
os poucos que se aproveitariam estão perdidos na palha

TENHO SAUDADES TUAS

já escrevi isto muitas vezes aqui, mas nunca como título.

o destinatário destas mensagens, escritas com tantas letras diferentes, já vestiu várias caras no meu coração
já foi bicho, já foi gente
já andou de saias e de calções

já o escrevi para ti, é verdade.

hoje esta frase é um título
e é-o assim mesmo: sem pontuação, tudo em berros maiúsculos.

não me ocorre outro para a música que toca hoje o meu coração...
(desafinado, sem dúvida!)

(se isto não são desperdícios....)

desperdícios #7

não quero parecer chata, muito menos ser...
mas é que tenho este punho fechado no peito...
assim, vês?
e a culpa é tua.

bom... culpa é uma palavra feia e demasiado forte.
e, no fim de contas, a escolha foi minha.

Não sei se já tinha dito

O meu sexto sentido é poderosíssimo.

(algumas coisas quase que se podem cheirar...)
(só não percebo porque não me dizes...)

Lembranças #3

O corredor era enorme, ia da sala ao quintal com as divisões sucedendo-se à esquerda: primeiro as escadas para os forrinhos, depois as escadas para a rua, o quarto do Daniel, a cozinha, e o quarto da Tiz.
A meio havia um lavatório com um jarro azul de plástico para lavarmos as mãos, mas acabávamos sempre por lavar mais qualquer coisa, quanto mais não fosse a madeira velha do chão...

do que me preocupa #1

este nó no estômago que não sei como se desfaz

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Reflexos

As coisas que tento tocar perdem contornos...




Os centímetros sempre custaram mais que os metros.
Quantos cabem nos quilómetros que nos separam?

Coisas que me deixam triste

O investimento emocional valeu a pena, deu lucros de valor incalculável...
Tenho pena de às vezes sentir que a empresa foi à falência.

(é a bidinha!)

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Respirar fundo...

Ainda agora cheguei e já precisava de ir outra vez...
Aos poucos o corpo habitua-se à rotina e esta necessidade esbate-se nas horas sobrepostas do dia-a-dia.

Não dói nada, é só uma picada.

É do calor

Este blog está um pouco seco...
Assim que tiver umas horinhas vai até ao mar, só para ver se ainda se lembra do sal, da areia, do sol lá em cima, do barulho das ondas, dos miúdos que fazem construções na areia, dos rapazes que jogam à bola, das miúdas que ficam a ver da toalha, fingindo-se distraídas....

E principalmente da sensação de frescura com que se sai da água, como se a vida estivesse só a começar...

sábado, 13 de agosto de 2005

mais nada

hoje devia ter-me posto a caminho...

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Não me posso queixar!

No meio de tanto desperdício já tenho muita coisa no peito: desde frasquinhos destapados até emissoras de rádio, e sem esquecer, claro, o dragão....

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

desperdícios #6

trago um rádio no peito.
a emissão irregular de música e novidades em onda curta tem pouco alcance, eu sei...

aí, de onde estás, não me consegues ouvir, pois não?

aos poucos a frequência vai perdendo convicção e tenho medo que as antenas acabem por murchar de vez, que esteja a ser este o último fôlego...

cada vez é mais difícil continuar a emissão sabendo que não está a ser ouvida.

a sintonia...
uma recepção boa...
bolas! não precisava de ser perfeita... boa...
boa chegava...

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Canção em Braille

"Onde os meus olhos
porque cantam assim?
um assum preto
dentro de mim

mil vezes a sina
do gingar da tua retina
que não vai lembrar
que eu também já fui bailarina

mil vezes o fado
de manter os olhos fechados
só para não ver
a menina do olho errado

quando os teus lábios
na minha mão pousaram
todas as linhas se alongaram

uma carícia
o quebrar de um segredo
deus escondido em cada dedo"
Letra: Tiago Torres da Silva/Música: Pedro Jóia

O futuro parece-me longe

Os dias passam deixando no ar um nevoeiro suave de torpor.
O presente alonga-se em horas intermináveis que se sucedem vazias de escolhas.
As decisões adiam-se, assim, para um qualquer ponto ali mais à frente, sempre ilusório, como uma miragem que se substitui a si própria continuamente...

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Pisar as minhas pegadas

Dou-me conta de que faço isto sempre que alguém chega aqui.
Vou atrás, tento pôr os olhos das outras pessoas e saber o que lêem nas coisas que escrevo... É impossível, mas é a minha forma de adaptar o que escrevo ao que é lido, sempre na tentativa de que os olhares alheios não me criem fronteiras, e eu possa continuar a crescer em azul e letras.

Para fora... sempre para fora.

domingo, 7 de agosto de 2005

momentos simples #2

monte, lagoas, cerveja e tremoços

(e sol, sempre muito sol por dentro e por fora)

Amanhã!

Tudo o que tenho feito nos últimos tempos se resume de forma simples: estou a adiar a minha vida.

Porque o blog esteve sempre de acordo com o resto, e porque estou cansada, adio aqui também....

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Dos fogos e das consumições...

É todos os anos demasiado triste...

Qualquer semelhança...


quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Preparem-se!

Agosto é o mês dos desperdícios.

ou será o verão?

do olhar ao ver
do ver ao sentir

gostava que olhasses e me soubesses aqui
perto, demasiado perto


esta é a distância que serve apenas para nos separar

momentos simples #1

praia, vento, cerveja e camarão

(não há nada como comer areia!)

desperdícios #5

Trago no peito um dragão cansado
Levanta devagar os olhos tristes para o alvo almejado
E devagar abre a enorme boca, deixando ver os dentes de gigante e uma língua bífida comprida
Em vez de um rugido foge-lhe como ar um lamento
Em vez de um fogo vivo e escaldante, escapa-lhe da garganta negra uma fuligem seca, que forma uma nuvem ridícula no ar

terça-feira, 2 de agosto de 2005

desperdícios #4

Havia um cantor de que os meus amigos gostavam.
Durante alguns anos ouvi-o sempre pelos ouvidos deles, mas, como não usava os meus, ele nunca chegou até mim, senão quando abri o espaço para que entrasse, guiado pela minha mão.

Tenho pensado que as pessoas são um pouco como a música: nem sempre estamos preparados para elas.

Às vezes podemos conseguir que elas cheguem até nós em tempo útil.

Às vezes não...


E se elas nunca entrarem, vamos sentir falta daquilo que nunca tivemos?
Vamos ter pena porque aquela música tocou tantas vezes e nunca lhe prestámos atenção?
Ou vamos simplesmente continuar caminho, vendo aquilo que olhamos, sentindo o que nos toca, cheirando o que respiramos, sem que à volta o mundo faça diferença?

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Por aqui é o que se encontra: ar e vento


galguei os degraus dois a dois

entrei no quarto de rompante

escancarei a gaveta

vasculhei tudo até encontrar o papel e a caneta

e esqueci-me do que queria escrever

Numa outra versão

-Tens andado estranha... Pareces alheada de tudo à tua volta, não prestas atenção ao que estamos a dizer... Passas a vida a escrever no teu livrinho, tiras centenas de fotografias... Estás apaixonada?
-Não. Estou obcecada.