quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Serviço de Voicemail - você chegou à minha caixa postal

Aguardei com uma certa ansiedade a chegada da noite.
Ouve, tu costumas cá vir?
Liguei-te. Hoje liguei-te.
Desse lado ouvi chamar, chamar, o meu telemóvel chamava por ti, e não sei se ouvias, se não ouvias, se dormias ou se sentias ao menos uma vibração no ar.
Tocou, chamou, berrou... E no fim, nem se ouviu a voz da senhora a dizer que não podias atender, para eu tentar mais tarde ou deixar uma mensagem a seguir ao sinal sonoro, e carregar no asterisco quando terminasse este monólogo incansável, que preenche o vazio do teu silêncio. Caramba, pá! Logo hoje que precisava de contacto humano, tinhas a senhora fora de serviço!
E depois abri estas janelas que simulam um mundo.
Vimos cá, olhamos para a frente como quem espreita novidades, do outro lado é zeros e uns, mas nem os vemos. Nesta vontade de mais contactos criam-se figuras, textos, fotografias, letras e mais letras, música e filmes e, vê lá tu... até pessoas!!! Sim, até pessoas esta coisa simula, como se elas existissem mesmo. É fixe, já experimentaste? Elas respondem mesmo, não é bem como aquela coisa de falar sozinho, enquanto do outro lado a senhora do telemóvel só espera que a gente carregue no tal asterisco... Estas pessoas quase que existem! Despertam estes sentimentos, e a gente ri-se, preocupa-se, e pensa nelas às vezes quando está no trabalho... Será que fulano está melhor da gripe? Será que sicrano conseguiu despachar aquele problema na Faculdade? Incrível, não é? Parece mesmo que são reais!
No fim de tudo isto podemos dormir mais acompanhados. Antes disso faz-se justiça àquela piada que circulou a net: abre-se a caixa do correio (também ela, obviamente, virtual) e sorri-se porque chegou um mail, mais alguém se lembrou de nós: um vírus replicou-se directamente para o nosso computador.
Brutal, durmo hoje muito melhor, não me sinto sozinha!
Vês? Não faz mal não teres atendido.
Não faz mal eu nem sequer ter ligado.
Não faz mal tu também não ligares, nem faz mal não chegarem cá mensagens tuas e eu não saber absolutamente nada do que são os teus dias.
Não faz mal tu não saberes nada dos meus.
A vida está repleta destas oportunidades.
Sem dúvida muito mais sentidas, vividas...
Sem dúvida muito mais reais.
*

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