segunda-feira, 27 de setembro de 2004

Mimadinha

Desde pequenina que as separações me assustam mais do que qualquer filme de terror, mesmo que sejam curtinhas. Era uma miúda insuportável, a minha mãe não podia estar a mais de 50cm de mim que eu desatava num berreiro. As minhas irmãs gozavam comigo à brava por causa disso. Tendo noção do ridículo armava-me em forte e pedia para passar uma semana fora, com uma prima, mas ao segundo dia tinha dores de barriga insuportáveis, e dores de pernas, e dores de tudo o que pudesse materializar a dor que tinha na alma, e que me fazia chorar desalmadamente, com saudades dos meus pais.
Uma vez fui com a minha mãe dormir a casa de uns amigos e durante a noite agarrei-me à carteira dela, sabia que não ia para a rua sem ela...
Não sei de onde veio este pavor, não me lembro de nada que o explique e acredito que não haja mesmo explicação.
Agora cresci (será?), as distâncias físicas e temporais não me incomodam se tiverem um prazo... Mas tudo o que percebo como definitivo traz de volta o mesmo sentimento de perda e de abandono, uma tristeza infinita que só o tempo apaga, e às vezes a muito custo.

Demoro 10 minutos daqui à casa nova da minha irmã.
Ela hoje já cá esteve.
Provavelmente, vou vê-la quase tantas vezes como se ela ainda aqui estivesse.
Qual é o problema, então???

Pois, eu sei: a resposta está no título...
E sim: sou a mais nova.

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