quinta-feira, 29 de março de 2007

Porque gritam todos aquilo que eu não quero dizer?

Os olhos baços, embaciados, húmidos, brilhantes...
Os olhares vagos que vagueiam, que falam, que fogem, que sofrem, que riem...
As rugas, as sobrancelhas, as pálpebras...
Os risos e os meios sorrisos, os lábios mordidos, apertados...


O que há para dizer não é muito, mas é grande.

E há coisas que eu queria só minhas.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Frágil

"Não quero que se torne matéria palpável para não se partir", escrevi eu, não há muito tempo atrás...

E conhecendo-me, talvez devesse saber que não é seguro arriscar, o tipo da esquerda é demasiado activo.
Na verdade já tinha mostrado alguns sinais de impaciência...

E eu não sei se continua a ser cedo, ou se agora é tarde demais.

terça-feira, 27 de março de 2007

Conjugação*

Eu quis

Ele quis

Nós quisemos


*do Lat. conjugatione

s. f.,
junção;
ligação;

Gram.,
flexão dos verbos, por tempos, modos e pessoas;

segunda-feira, 26 de março de 2007

21 de Março

Quem sai à rua nestes dias pensa que o tempo retrocedeu.
Houve, realmente, um ameaço, uma amostra, um acenar, para de novo se retirar o sol, o céu azul, o calorzinho morno, confortável, bom...
Mas a hora não adiantou, voltou para trás, e o frio foi chamado, junto com as nuvens e a água a cair.

Apesar de tudo isto, se prestarmos um pouco mais de atenção, reparamos que a Primavera afinal já chegou.
Por causa dela chegou também a Poesia.

O Dia Mundial do Sono é para mim todos os dias, mas só o consigo festejar ao fim de semana...

Intimidade #2

"Que ninguém
hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.

Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê."
Intimidade, Fernando Namora

sexta-feira, 23 de março de 2007

É uma casa...

Lembro-me de ir entrando e ir notando os cheiros a mudar, de me pôr descalça para sentir o meu chão debaixo dos pés, de passar as mãos pelas paredes pintadas...

É boa, muito boa esta noção do meu espaço.
E é bestial como este espaço se completa e torna pleno quando o partilho, quando serve para receber aqueles que me completam a mim.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Em cheio!

Não dormi particularmente bem.
Sonhei com trabalho, trabalho, trabalho...
Acordei tão tarde como tem sido costume.
Não houve tempo para a vitamina habitual a meio da manhã.
Há uma máquina pela qual tenho um ódio mortal. Nunca pensei sentir isto por uma coisa. Bom, antes por uma coisa...
Consegui duvidar da minha inteligência/capacidades de forma a ficar completamente desmoralizada.
Vi um gato em agonia e não consegui fazer nada. Quando voltei tinha desaparecido, terá, provavelmente, ido morrer a outro sítio.
Não tive tempo para preparar uma série de coisas que tenho que ter prontas: umas amanhã, outras no fim de semana.
Jantei a correr.
Consegui duvidar da minha inteligência/capacidades pela segunda vez, mas não fiquei completamente desmoralizada. Será esta a diferença entre trabalho e lazer?...
Agora vou dormir.

Amanhã será um dia melhor e terei mais ânimo para falar da Primavera...

terça-feira, 20 de março de 2007

Prontinho!

Já consegui escrever tantos posts este ano como no que passou.
Dou por encerrado este blog.
Até para o ano! (se Deus quiser!)

(brincadeirinha!)

segunda-feira, 19 de março de 2007

O meu papi é o melhor do mundo!

(e agora sei que já o disse!)

Gravíssimo!!!

Ando aqui tão entretida que só hoje, ao ver pela segunda vez que o La Force des Choses fez dois anos, me lembrei que o aniversário deste estaminé era por estas alturas...

Pois bem: no passado dia 7, ao contrário de todas as expectativas, arrastando-se ainda quando (quase) todos os que o acompanharam na altura da criação já morreram, este blog fez três anos.

Não sei se é motivo de celebração.

É, certamente, motivo de espanto...

Aqui continuam as minhas lembranças.
(não fosse eu uma agarrada e isto era tudo pó!)

Como queria substituir o vulgar não sei...

"Abro os braços ao infinito,
Abraçando-te na suavidade de
Uma tarde de domingo e sol
Cheio de música.
Como uma vaga de um doce
Calor quieto mergulho o meu
Coração nas tuas mãos firmes.
Assim adormeço ao luar
De uma esperança que brilha em
Cada noite escura, sob o olhar
Atento das estrelas.
E elas sim, vigiam o meu sono,
Para que um dia ao acordar os meus
Braços estejam finalmente fechados
Sobre a tua solidez, e não sobre a
Tua permanente ausência em mim.

Onde moras em cada grão de areia que cai a imitar o tempo?
Onde te escondes na frente de nuvens que tapam o céu de hoje?

Será que, sob o meu olhar atento a vigiar-te queres surgir, e na ânsia de achar não te encontro?"

04.02.1999


Às vezes tenho a sensação de que algumas coisas não mudaram nunca com o tempo que passou...

domingo, 18 de março de 2007

Virtuais, sim.

É tarde, como sempre.

Passo apressadamente os olhos pelos dias que passam depressa, e descubro que não sei para onde foram.
Excepto, talvez, dois ou três melhor aproveitados, que se guardaram em cds, porque cada vez há menos álbuns fotográficos.

A memória física, palpável, das coisas, está também a tornar-se virtual, como todas as outras.

Ultimamente apercebo-me de um fenómeno curioso: o tempo presente não existe. Há uma divisão arbitrária entre a semana e o fim dela. A semana passa como os dias de que falei há pouco. Procuram-se, então, os dias em que acaba, para que valha a pena. Valha o quê? A pena? Sim, para que valha a pena. Mas o quê? A pena. Não, valha a pena o quê? Valha a pena passar a semana depressa. Queremos que passe depressa para chegar ao fim. De qualquer forma dou por mim isolada nestas ilhas que são os fins de semana. E quando procuro uma nova ilha, um bocadinho mais à frente, falta muito, ainda, e falta tão pouco, porque começamos aos saltos no calendário e falta um mês, mas esse mês já está gasto, vejamos o próximo. Tenho um livre. Tu podes? Não, nesse não posso. Então e neste? Nesse não posso eu. E saltamos, continuamos a saltar. O tempo passa, passou, e não sei o que lhe fizemos.

Ao olhar para trás é tal e qual como já disse: espremeu-se qualquer coisinha.
Um concentrado de qualquer coisa maior, grande, gigante, especial, que preenche o vazio ocupado pelos outros dias vazios.

Guardam-se as memórias.

quarta-feira, 14 de março de 2007

...que fará quando acaba...

a reciprocidade já é tão efémera quando dura....

Que sei eu da vida? Das pessoas? De mim?

Às vezes, quando me perco nas minhas teorias sobre a vida, as pessoas, eu e as pessoas, as nossas relações, e as minhas emoções racionais, ando em círculos sobre mim própria, e as linhas desses círculos não se fecham nunca...

Acabo em contradições.

segunda-feira, 12 de março de 2007

O espaço entre nós existe?

Eu estou aqui.
Não sou um corpo estanque, sou antes uma permanente reacção com tudo à minha volta.
A todo o momento, neste equilíbrio entre o que sou e o que não sou eu, há trocas constantes, perco-me de mim e fundo-me no que me rodeia, que, por sua vez, se transforma no que eu sou.

E aí onde estás tu, mesmo que em alguns instantes ocupemos o mesmo exacto espaço, existe um processo idêntico, uma reacção que não pára nunca.
Tudo o que está à tua volta sem seres tu passa para ti, e tu vais perdendo pequeninos, ínfimos bocados do que te compõe.

Então existe este espaço entre nós, como separação entre o que sou eu e o que és tu,
como um espaço em que não estamos no preciso momento do agora. Mas ao mesmo tempo esse é o espaço em que nos fundimos e que se funde em nós. Nesse espaço somos partículas, matéria que flui, até chegarmos ao outro, até nós como plural, como singular.
E esse conjunto funciona como dinâmica de troca, de dar, receber, de tocar, de estar, de sentir, de ser o outro.
Um espaço onde o que é meu e o que é teu se tocam, se misturam perdendo identidade própria, passando a ser o que foi de um e de outro, sem que se saiba a que parte pertenceu o quê.

O mesmo espaço que nos separa é o espaço que nos une,que permite que passemos a ser o tal plural no singular, ou singular plural, ou......

domingo, 11 de março de 2007

teen #?

qual será o problema... o meu?
o que correu mal?
falhei quantas vezes? em quê?
mais que o normal? imperdoavelmente?
fui eu? foram eles?
porquê?.....

...é em mim própria.

... e depois parece-me triste esta forma de estar...
como se não houvesse já fé em ninguém, além de mim própria...
talvez fosse bom, de vez em quando, ver as coisas de fora para dentro.

Porque a falta de fé, como já admiti antes, não é nos outros...

Fronteira

Às vezes tenho a sensação de já ter dito tudo.
Dou por mim à procura de novas combinações de letras para explicar por que bate este coração velho, mas não sei se será possível inventá-las....
Nem isto que hoje escrevo é novo.

Vivo em fronteiras.
Às vezes, insatisfeita com este lugar de passagem em que me instalei, arrisco um pé para um dos lados. Sei que não devo, não pertenço a nenhum outro sítio, e mais cedo ou mais tarde vou pensar que a expulsão era inevitável já aquando da invasão.

Então porque me ponho a caminho?...

À medida que o tempo passa sinto-me cada vez mais cansada.
Sinto as coisas com a mesma intensidade, há olhares que ficam guardados na memória pelo que me passam, num segundo que se congela para sempre, há sorrisos que me deixam enorme, sem caber em mim própria, há pequenos gestos que aquecem tudo...
Mas, apesar de sentir tudo, exactamente como sempre senti (às vezes acho que mais, muito mais), tenho uma dificuldade cada vez maior em esticar o braço para chegar .
Como se a iniciativa nunca fosse minha, e esperasse sempre que fosse o caminho dos outros a trazê-los até mim. Porque sei, têm-mo mostrado invariavelmente, que, como vêm, um dia irão.

As fronteiras são sempre lugar de passagem, e mais vale ficar a ver passar a caravana do que andar sempre com malas às costas, expulsa de país em país....

quarta-feira, 7 de março de 2007

Físico-química

Sento-me, fecho os olhos, seguro a cabeça nas mãos.

Quero conseguir passar a nitidez física com que estás ao meu lado: perto, muito perto, sem que nos cheguemos a tocar.

Enquanto os outros vão falando, eu quase sinto na ponta dos meus dedos os teus, a tua mão a deslizar devagarinho até encaixar com força na minha, num gesto seguro, bem definido, preciso, e no entanto tão, tão suave...

Fecho novamente os olhos.

As palavras vão passando longe do que ouço. À minha volta começa a encerrar-se a tua presença, e sem saíres de onde estás, ao meu lado, estás já em cada espaço que eu própria ocupo, cercando-me, rodeando-me, toldando-me a noção do que está para além de nós.

E então ris-te, eu rio-me do teu riso, e a música volta às rotações certas, audíveis.
As gargalhadas dos outros fundem-se nas nossas.

A realidade volta a ser real.

É cedo...

terça-feira, 6 de março de 2007

fora de prazo

esta música já roda há muito, mas hoje ainda me parece a que melhor acompanha os meus dedos nas teclas, os sons que faz o meu coração, a lentidão com que mexo os pensamentos, as mãos, os braços, as engrenagens todas....

(amanhã é dia de correr e libertar toxinas)
(e quem sabe, mudar de música...)

O peso das palavras

O dia a seguir, supostamente de ressaca, é o dia em que a consciência do estar se intensifica, e se perde um pouco a noção de que realmente não se está.
O sentidos estão nublados mas sentem-se como alerta, e todo o corpo se recusa a obedecer ao que obriga o senhor dos controlos.
É nestes momentos que penso nas palavras e elas crescem em significados intensos dentro do meu peito.
Devia, por isso, recusar-me a deixá-las sair, mas falta o tal filtro, sempre tão alerta em dias normais, e em catadupa disparam-se letrinhas, que se juntam, e, unidas, formam as palavras que eu devia calar, e que digo... e que hoje me parecem, não menos verdadeiras, mas pesadas em exagero.

sábado, 3 de março de 2007

E não são muitas as coisas que me sabem tão bem...

Ao chegar a esta hora, com a chuva a cair lá fora quase tão preguiçosa como eu, começo a render o corpo ao torpor da noite, e ao calor que aqui faz.
Deito os olhos sobre as palavras e deixo-os viajar livremente, sem fronteiras, porque sei que amanhã só se abrem quando tiverem vontade disso.
Depois dissolvo-me devagarinho até me fundir nos lençóis, e esqueço-me de mim...

sexta-feira, 2 de março de 2007

Será que ando a dormir demais???

E já agora: aquelas gralhas e erros ortográficos no artigo serão resultado de falta de sono?

quinta-feira, 1 de março de 2007

Quase, quase....

Já passava das quatro da tarde, mas ainda não eram cinco.
O termómetro marcava dezoito graus e meio (estaria certo?), e o sol ainda me riscava o retrovisor, vermelho e vivo.
À velocidade a que ia, com a música a ultrapassar os decibéis recomendados a uma protésica como eu, senti-o nas entranhas: o Inverno está a acabar.