O mal de não escrever logo...
Tinha muito para dizer, mas perdi as palavras no meio das horas que foram passando.
Tinha muito para dizer, mas perdi as palavras no meio das horas que foram passando.
postado por muska eram 23:44 0 na memória
Como eu própria já referi muitas vezes, não há nada como ter a cabeça e o corpo ocupados para manter o tipo da esquerda a trabalhar só para eles. Assim não se contrai mais do que o necessário, e, como tal, não dói.
Continuo a não gostar de despedidas. Esta não tem que ser definitiva, mas encaro-a como tal. Não consigo deixar de pensar que as pessoas fazem sempre toda a diferença, e por isso, apesar de alguns momentos menos bons, sinto que tive muita sorte. Fui, como se diz às vezes, "trazida nas palminhas"... Tentei, mas há coisas que não se conseguem agradecer.
E agora que chega ao fim a primeira e a maior de quatro etapas, percebo que, apesar de tudo, preciso de parar. Apanhar um pouco de sol, relaxar, e, se possível, respirar o mar...
postado por muska eram 23:14 0 na memória
postado por muska eram 23:04 2 na memória
nada melhor para ocupar a cabecinha e manter o inquilino anestesiado
postado por muska eram 02:34 0 na memória
Já não tenho idade para algumas coisas....
(e, ainda assim, pergunto-me se há idades próprias para determinadas coisas)
postado por muska eram 06:04 2 na memória
Tenho as mãos abertas, espalmadas nas teclas.
Penso, por momentos, que assim vou conseguir escrever, mas sei que é apenas temporário.
Nos meus ouvidos ecoam os Verdes Anos em repeat mode, e eu sei que há músicas que não se devem ouvir a determinadas horas, nem em determinados dias.
Tal como não se deviam cultivar letras.
À minha frente desfilam anos. Verdes, todos eles muito verdes, e eu sempre à espera de os ver ganhar um pouco de uma outra cor. Uma qualquer, não sei qual...
À minha frente desfilam todos os amigos que fui ganhando e aos poucos perdendo. E quando os vejo pegunto-lhes onde estão, mas os meus ouvidos surdos já não percebem o que dizem as suas vozes distantes. Canso-me de tentar segui-los para onde vão.
Desfilam à minha frente os rapazes de quem gostei, um ou dois homens que amei, também eles rapazes de quem gostei.
Desfilam as pessoas que me habitam hoje, e nesta escuridão de noite avançada, em que sozinha me debruço sobre um teclado negro, afagado com carinho e com as duas mãos, pergunto-me se estarão mesmo a desfilar. Se como todas as outras pessoas vão só estar por algum tempo na frente dos meus olhos, até que o tempo, a vida, as mudanças as levem de novo, ou se é tudo uma ilusão óptica e estarão cá ainda, amanhã quando eu abrir os olhos inchados.
Queria creditar que assim como já não se fazem amigos facilmente, também já não se vão perder assim, com dois dedos de treta.
Queria acreditar que no meio desta gente toda à minha volta, que de entre estas pessoas todas que me fizeram quem sou, que fazem a minha vida completa mesmo quando me faltam em bocadinhos apertados do meu peito, não preciso de me sentir sozinha.
Mas sei cá no fundo que algumas coisas estão já resolvidas porque não têm solução.
Vários dos caminhos que percorro terminam em becos sem saída, e eu, com paciência, volto atrás, e passo novamente os pés pelas pedras só para descobrir que vão dar aos mesmíssimos sítios.
E à medida que o tempo passa tenho mais dificuldade em acreditar, mas nem por isso paro. Continuo cega neste caminho, que faço apenas com a convicção de que tem de ser feito, sem saber já para onde me dirigia quando o tomei.
Mas isso interessa? Faz algum sentido? Marca alguma diferença?
Não. No fundo não.
É tarde, amanhã vou achar que não devia ter-me dado a estes trabalhos, mas não vou apagá-los.
E volta e meia chego a dizer que não consigo não criar expectativas, que todos à minha volta são, no mínimo, tão egoístas como eu própria sou, e que certos gestos não lhes cabem nas mãos, como se calhar também não cabem nas minhas, mesmo que olhando para elas as ache grandes.
Eu, que não desenho os gestos para isso, sinto um certo calor na alma quando alguém os reconhece e sabe quem são.
Mas as mãos são, às vezes, demasiado grandes.
Há quem as perceba assim, mas também essas noções são temporárias.
A partir de certa altura o que tinha graça por ser grande, diferente, torna-se cansativo e rotineiro como tudo o resto, e já ninguém lhe vai dar valor.
E tenho pena. Porque sei que em parte é isso que torna verdes os meus anos.
postado por muska eram 05:04 1 na memória
Às vezes engano-me e acho que os outros vão fazer aquilo que eu faria.
Porque haviam de o fazer? São os outros, não sou eu....
Ainda assim há pequenas coisas que ferem.
Não é muito, é só ligeiramente...
Se calhar um pouco como quem se corta com uma folha de papel.
Dói na altura, é irritante porque é estúpido, mas passa depressa.
As outras pessoas não têm obrigação de corresponder às expectativas que eu criei para elas, certo?...
postado por muska eram 01:44 4 na memória
Quem tudo quer, tudo perde.
postado por muska eram 00:14 0 na memória
Houve uma altura em que as palavras eram gravadas em preto e laranja num fundo verde.
Nessa altura era um pouco como deixar o vento encarregar-se de as espalhar, de as separar, de as fazer perder-se, e com elas as mensagens tristes, monótonas e repetitivas que tentavam passar. Aos poucos o fundo tornou-se cada vez mais azul céu, perdeu-se o laranja pôr-do-sol, e o vento soprou cada vez mais fraquinho. No máximo conseguia difundir um pouco essas palavras, com tudo o que isso traz de bom, porque liberta, e de mau, porque pesa nos que as ouvem.
Hoje divido-me entre a vontade de me perder nas letras, abandonar-lhes este vazio pesado que dói, e a consciência de que não serão só palavras ao vento....
Queria escrever tudo menos o que posso, ou devo, escrever.
postado por muska eram 23:54 0 na memória
Amanhã tudo isto me vai parecer apenas tempo desperdiçado.
Hoje há um certo gozo masoquista (redundância?) em explorar a fundo os buracos negros que me esvaziam a alma.
postado por muska eram 01:16 0 na memória
As palavras esgotaram-se, perdidas entre as irregularidades desta estrada que percorro já quase sem abrir os olhos, só virada para dentro.
Não choveu, mas não tive estrelas a guiar-me, e ao chegar a casa estava quente, como que à minha espera.
Atiro as coisas para os cantos provisórios em que moram, um pouco como eu, e abro estas janelas fechadas, que às vezes só servem para me engolir inteira.
Adio o início da semana como se isso a fizesse desaparecer, mas sei que só me estou a enganar. Então abro o peito para o que me espera e fecho os olhos com força, à espera do choque frontal.
Alguma vez vou encarar alguma coisa na minha vida como definitiva?
Alguma vez vou sentir que pertenço realmente a algum sítio?
Alguma vez vou sentir que pertenço realmente a alguém?
No pasa nada...
postado por muska eram 01:14 0 na memória
De tanto me fazerem boa pessoa, talvez um dia eu acabe mesmo por me transformar numa.
postado por muska eram 04:24 2 na memória
Foi então que se virou e disse, a sorrir um sorriso grande: "O que é bom nisto tudo é que ninguém tenta ser mais. Tentamos, isso sim, que os outros, os nossos outros, sejam mais. E com isso tornamo-nos maiores."
postado por muska eram 23:04 0 na memória
Difícil que tivesse acontecido numa altura menos própria.
De certa forma estava à espera há já algum tempo, mas não pude nem sequer aproveitar para lavar a alma.....
postado por muska eram 23:54 0 na memória
Conheço pessoas que têm problemas.
Problemas a sério, e não estes dramas caseiros que eu adoro representar para mim própria.
Essas pessoas têm problemas, mas nem por isso deixaram de rir, de cumprir os seus deveres, de ser inteiras mesmo que por dentro se sintam aos pedacinhos.
postado por muska eram 01:24 0 na memória
sábado, o sétimo dia
dia sete
mês sete
ano sete
desta vez não consegui manter-me acordada até às sete horas, sete minutos e sete segundos...
*pixies
postado por muska eram 21:24 0 na memória
não consigo deixar de achar curioso: o que a seduz nos outros é exactamente o que a mim me assusta...
postado por muska eram 03:14 0 na memória
Poucas coisas me sabem tão bem como ir ao lado de algumas pessoas, depressa, a música aos berros a devorar o silêncio e a estrada...
Ter quase a sensação de não ir a lado nenhum, de não ter que chegar nunca mais....
*Tracy Chapman
postado por muska eram 03:04 0 na memória
Houve uma altura em que me parecia legítimo explicar tudo o que não era capaz de dizer ou fazer, e tudo o que, fazendo, não resultava propriamente de acordo com as minhas intenções, numa folha de papel, cheiinha a abarrotar de palavras azuis.
Hoje percebo que isso não faz sentido, já.
As coisas que não se fizeram ou que não se disseram e que tinham que ter sido ditas e feitas não cabem em cartas, tal como não cabem todos os nossos actos falhados.
Crescemos (crescemos?), assumimos os nossos erros, e se quisermos falar deles e retractar-nos devemos agir e falar, e não esconder-nos em letras.
postado por muska eram 02:54 0 na memória
Percebi, ali sentada, que há coisas que não vão nunca ser diferentes.
Às vezes engano-me e penso que sim, mas aos poucos vou distinguindo que não adianta procurar outro caminho: os meus pés só conhecem as pedras desta estrada.
postado por muska eram 02:44 0 na memória
Ultimamente sinto-me a escolher, de entre o que não me apetece fazer, aquilo que me parece menos penoso.
Sei que está a escapar ao entendimento das pessoas este meu comportamento.
Sei que, quando emergir, vou ter pena de não ter aproveitado outras coisas, outras pessoas, outras andanças.
Mas é sempre assim, faz parte do ciclo...
E sim, a falta de inspiração que aqui se lê também faz parte dessas voltas, quais quer que elas sejam.
postado por muska eram 23:54 0 na memória
Percebi que há vários indícios de ausência de normalidade.
Sempre fui mais feliz no verão, sozinha ou acompanhada.
Este verão, chuvoso e menos quente que os últimos está a parecer-me estranho.
E ontem, quando recusei um convite para ir à praia, percebi que não estou, de facto, em mim.
postado por muska eram 23:46 0 na memória
Quando a máquina começa a mexer, sinto os sistemas de protecção começar a activar.
Brevemente atingem o nível máximo.
Começa então o processo de afastamento.
Não sei porque me lamento, não são os outros que me deixam: eu é que os deixo a eles.
(e como este há este e este)
postado por muska eram 23:44 0 na memória
"...poderá, portanto, dormir um pouco mais. Isto é o que costumam dizer o insones que não pregaram olho em toda a noite, mas que, pobres deles, julgam ser capazes de iludir o sono só porque lhe pedem um pouco mais, apenas um pouco mais, eles a quem nem um minuto de repouso lhes havia sido concedido."
José Saramago, As Intermintências da Morte (pag 187, Caminho)
postado por muska eram 23:34 0 na memória
que me sirva de lição, para perceber que não posso continuar a render-me só ao que é imediato e fácil...
(talvez por isso não possa deixar de agradecer a quem me ajudou a pôr outra vez os pés neste caminho)
postado por muska eram 22:04 2 na memória
queria
quero escrever
o tempo que se adia permanentemente a ele próprio nos pequenos gestos do dia-a-dia que não sabemos como concretizar fora da rotina
queria
quero uma vida
(bom, na realidade já tenho uma, só não sei é se estou a fazer dela o que devia)
postado por muska eram 00:44 0 na memória