A poesia da dor
Queria um poema.
Ultimamente mais do que posts estúpidos escritos em catadupa como este, mais do que músicas que ouço repetidamente enquanto lhes esquadrinho as letras à procura do que sinto (saberei o que é?), eu queria um poema.
O tempo dilui-se, às vezes acho que com suavidade.
As pequenas batalhas do dia-a-dia, com as suas pequenas vitórias e as suas pequenas derrotas, ganham pequenas importâncias que se sobrepõem a tudo o que terá o seu grande valor.
E eu, que queria um poema, esqueço-me da poesia da dor e rasgo-me em risos fáceis em resposta a piadas fáceis, banais.
Os dias passam (banais) e subsiste uma calma, uma paz, delicadas, que estalam em crostas dolorosas quando o dia-a-dia se aproxima ritmicamente do fim e é preciso um plano de fuga.
E eu, que alterno os dias em que enfrento os medos com aqueles em que me rendo a eles, fujo, quero muito fugir, porque sei que estou a travar uma guerra em que eu sou a minha única e fiel inimiga.
Os outros partiram, já, observam-me de longe, do outro lado dos campos que apenas para mim se mancham de batalhas.
Nos seus olhos leves, alegres, há flores, há praias com sol, há mares azuis.
Nos meus há a angústia de quem vê chegar o verão sem um plano de fuga.
Eu, que queria um poema, talvez devesse desejar um mapa.
Pé à frente de pé, olho feito máquina que tenta olhar um outro horizonte.
Será diferente?
Será o meu horizonte diferente?
Não consigo achá-lo igual.
E nos olhos o mar, e a areia branca ou levemente amarela, áspera nos pés, na pele que a agarra às mãos cheias.
E nas mãos a areia, a água que escorre e que é tempo, tempo que eu queria para os meus olhos, para que eles não sentissem.
Para que vissem apenas...
Tempo para eu desejar um poema pelo poema, e não pelas palavras que me escapam com raiva quando ninguém está para as ouvir, não pelo meu coração que bate dor dor, dor dor, dor dor, dor dor...