terça-feira, 1 de março de 2005

Como acaba o que nunca começou?

Acontece com alguma frequência, começo finalmente a perceber.
Quando menos espero, investes contra o meu sono, roubas-me o descanso dos sonhos, fazes-me andar alheada durante o dia.
O erro foi nomear-te.
Nunca o podia ter feito porque não sei quem és.

Era uma festa.
Não sei porque digo que era uma festa, porque vagueava, perdida, até ser noite.
E nessa altura todos descansavam em camas brancas de ferro, alinhadas lado a lado.
Em filas intermináveis havia corpos atirados, desfasados, ausentes.
Vislumbrei-te numa dessas camas.
Ao teu lado dormia alguém com o braço pousado casualmente sobre ti.
Olhavas-me fixamente.
O teu olhar gritava liberdade, mas não mexias um músculo.



E ficávamos assim, olhando-nos indefinidamente...
O tempo a perder contornos cinzentos, o espaço moldado ao horizonte longínquo, até sermos só nós, olhando-nos fixamente nos olhos, procurando-nos... sem nunca nos encontrarmos...

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