"O Inverno mantém-se incansável
Lá fora, com a chuva a martelar
Monotonamente sobre todas as esperanças que me criei, e que nem assim derretem...
Cá dentro continuo à espera.
Sento-me inquieta e tento distrair-me.
Leio e escrevo, ouço televisão e vejo a mesma música de sempre:
Ninguém vai chegar...
A noite vai correndo imperturbável,
Calma e serena, mole e preguiçosa,
De dias passados no sofá,
Inúteis, cansados à nascença.
E eu olho lá para fora, para a chuva que nem vejo nem ouço
Através dos vidros embaciados.
E espero.
Cá dentro do peito nasce uma
Angústia disfarçada que se vai
Alimentando a si própria,
Crescendo, alargando e aumentando,
Comprimindo todas as tentativas
De abstração...
Já não quero esperar mais.
Levantar-me e abrir as portas da minha cabeça,
Arrancar os olhos ao telefone e sair à chuva,
Molhar-me, ter frio, acordar com a noite...
Mas o aquecedor acende-se em resposta ao termostato.
Mudo de canal."
AS; 06Jan2001
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