Lembrança do Senhor do Bonfim da Baía
Abordada na rua, como é típico nestas situações.
"Presente da Baiana, tou dando de coração!"
Respondo educadamente que não quero, já sei que nunca são presentes, por melhor que seja o coração de quem os "oferece", acabamos sempre por ter de os pagar.
"Não pode recusar!" e agarra-me o braço.
"Não paga nada, é oferta. A Baiana tá dando!"
Antes que possa fazer alguma coisa, tenho esta pulseira vermelha no braço...
"A Baiana coloca, é a pulseira do amor"
"Estou vendo que precisa, a Baiana sabe"
Meu Deus, até a Baiana sabe???
Como é que é possível ter chegado lá?
Claro que face a esta clarividência tive que sorrir. Quantas turistas não terão um coração meio partido ou remendado, quantas não se renderão (como eu) a esta declaração de que é a pulseira do amor? Mesmo conhecendo a verdade?
Aceitei, sabendo que teria que a pagar de alguma forma.
"Pensa num desejo, é um para cada nó..."
Eu sei. Lembrei-me da minha primeira fitinha destas, oferecida por uma amiga especial há uns bons dez anos (talvez até mais), numa espécie de ritual, em que atava a dela, e ela a minha e ainda a de uma outra amiga, as três MUITO amigas....
Nessa altura os desejos eram importantes como a própria vida, e atendendo à época em que se passou, posso imaginar qual seria um deles...
A minha eterna paixão não concretizada pelo vizinho da frente, que não atava nem desatava (ao contrário das pulseiras) e me manteve numa espécie de limbo durante mais de um ano...
Esse desejo nunca se concretizou.
"Já pensou?"
Já. Um já está.
Mais um nó: um desejo. Outro que está.
"O último. Pensa no último!"
Já pensei.
O último desejo...
Cada nó cada desejo, cada desejo um só desejo.
Sempre o mesmo desejo.
Como se desejá-lo várias vezes lhe touxesse mais força...
Como que sabendo à partida que não se realizará, e que por isso mesmo precisa de ser reforçado, atado com vários nós, envolvido em três ou quatro fitinhas....
2 comentários:
A Baiana também deu para mim (ok, isto não soou nada bem...), de coração. A mesma que ainda hoje, quase três anos depois, carrego com o peso de três desejos de que já não me recordo, que parecem não querer realizar-se ou que talvez já se tenham realizado. Mas é sobretudo por já não me lembrar do que pedi que resisto a arriscar cortá-la do pulso...
Deixo-te o desejo de que o teu desejo se realize, caia ou não a pulseira...
É muito bom ter-te de volta...
:) ***
Joana | http://debaixodacama.blogspot.com/| 12.11.04 - 8:29 pm | #
É ainda melhor voltar e encontrar-te por aqui! Quanto às pulseiras... O tempo dirá! ;) (ou então não...)
***
Muska | Email | Homepage | 13.11.04 - 2:52 am | #
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