quarta-feira, 6 de abril de 2005

Desejos

"Não sei de que maneira a sucessão
Nos dias tem achado este meu ser
Que a si mesmo se tem desconhecido.
Não sei que tempo vago atravessei
Nos breves dias de febril ausência
De parte do meu ser. Agora
Não sei o que há em mim, que sobrenada
A ignorada coisa que perdi.

Sinto pavor, mas já não é o mesmo
Pavor, nem é a mesma solidão
Doutrora, a solidão em que me sinto.

Queimei livros, papéis,
Destruí tudo por ficar bem só,
Por que não sei, não sabê-lo desejo.

Resta-me apenas um desejo ermo
De amar e de sentir"

Fernando Pessoa - O Horror de Conhecer
(daqui, com algumas alterações minhas)

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