quinta-feira, 7 de abril de 2005

Nocturnos #2

No final da noite o coração bate-me mais forte.
Desvio os olhos das conversas que mantenho comigo mesma, e vislumbro lá fora o cantar dos pássaros que anuncia um novo dia.
É cedo... ou é tarde, e eu nem sabia...
Levanto-me pesadamente, apago as réstias artificiais de luz, e visto-me de descanso.
Nos olhos pesa-me parte do dia e parte da noite, e arrasto os pés pela casa, escolho nos dedos as tábuas que fazem os degraus ranger, e fecho a porta atrás de mim.
Não acendo ainda a luz, gosto de me movimentar às escuras, sabendo que conheço os recantos como a um corpo que toco com suavidade, sempre na expectativa de confirmar que a memória não me traiu, e que a realidade ultrapassa a imaginação.



Através das cortinas coloridas, baratas, começa a entrar um pouco do dia novo, e pelo silêncio, pela paz desta hora em que o mundo é só meu, abro a porta da varanda.
Só então percebo que não vesti ainda o pijama, quando a manhã me cobre, fria, e tu vens por trás e me abraças.

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