Existem dois momentos que se tocam
Na proximidade dos outros encontro-me a mim própria com calma, sem pressas, sem dúvidas ou justificações, como qualquer coisa que existe simplesmente, que se limita a ser como é.
Mas à medida que o tempo avança, avassalador sobre o meu peito nu, desprotegido, sinto-o alimentar os pontos de interrogação que me crescem nos olhos marejados, e percebo que os momentos deixam de se tocar, primeiro por uns segundos apenas, mas aos poucos, à medida que cresce a confiança da dúvida demolidora, por mais uns minutos, e depois umas horas, e um dia, e dois... até que já não tenho olhos, só questões húmidas que não sei como esmagar.
Não com as minhas duas mãos.
Dói-me a distância de mim mesma, com o barulho da carne a ser rasgada, afastada devagar da outra carne, do osso... porque é a mesma distância que se ergue assombrosa e me separa dos outros.
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