É tarde, como sempre.
Passo apressadamente os olhos pelos dias que passam depressa, e descubro que não sei para onde foram.
Excepto, talvez, dois ou três melhor aproveitados, que se guardaram em cds, porque cada vez há menos álbuns fotográficos.
A memória física, palpável, das coisas, está também a tornar-se virtual, como todas as outras.
Ultimamente apercebo-me de um fenómeno curioso: o tempo presente não existe. Há uma divisão arbitrária entre a semana e o fim dela. A semana passa como os dias de que falei há pouco. Procuram-se, então, os dias em que acaba, para que valha a pena. Valha o quê? A pena? Sim, para que valha a pena. Mas o quê? A pena. Não, valha a pena o quê? Valha a pena passar a semana depressa. Queremos que passe depressa para chegar ao fim. De qualquer forma dou por mim isolada nestas ilhas que são os fins de semana. E quando procuro uma nova ilha, um bocadinho mais à frente, falta muito, ainda, e falta tão pouco, porque começamos aos saltos no calendário e falta um mês, mas esse mês já está gasto, vejamos o próximo. Tenho um livre. Tu podes? Não, nesse não posso. Então e neste? Nesse não posso eu. E saltamos, continuamos a saltar. O tempo passa, passou, e não sei o que lhe fizemos.
Ao olhar para trás é tal e qual como já disse: espremeu-se qualquer coisinha.
Um concentrado de qualquer coisa maior, grande, gigante, especial, que preenche o vazio ocupado pelos outros dias vazios.
Guardam-se as memórias.