sábado, 22 de maio de 2004

"Hoje a noite caiu lenta, arrastando-se pesada entre nuvens de água e lama derramada. O mundo vestiu-se de negro num silêncio obeso e precário de quem não conhece um amanhã. A vida agita-se devegarinho e há um vulto desesperado de luta, atribulado em viver, e no entanto o seu único movimento é parado da tristeza de quem perde devagar ou de repente o grande tesouro menos material que alguém poderia alguma vez obter. Depois de um sono magnífico de repouso e suavidade, o acordar violento da manhã húmida e gelada de dores de cabeça desmotivadas de dor. Tudo sem nexo, numa atitude de louco que não sabe o que espera, e no entanto continua a rir-se do tempo. Tudo numa atitude de voltar atrás nas anteriores atitudes tomadas, como que retirando o dinheiro da mesa a meio do jogo com medo de o perder, só que desta vez não há dinheiro, nem jogo. Nem eu que me sentei na mesa sei o que há, e temo que a última coisa que me resta para jogar seja o medo da perda..."
AS 18Dez1993

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