domingo, 18 de julho de 2004

Ímpar

Desperto.
A noite foi longa de um nada asfixiante, como o ar que se respira.
Lá fora está muito calor, é este calor infernal que me está a matar, só pode.
À medida que os dias se sucedem vou ganhando forma, moldando-me ao ambiente, começando de novo a levantar as pálpebras e a olhar.
E quanto mais olho mais vejo, e quanto mais vejo mais cega me acho.
A vida é isto, este mar revolto?
Sei que vou ser sempre assim, e contrariar esta minha natureza só me deixa infeliz. Não é assim com toda a gente?
E no entanto.....
Pode parecer presunção da minha parte, mas sei que não há mais ninguém como eu.
Felizmente para todos vocês e infelizmente para mim, porque nunca me vou sentir completa, é como se fosse o único número ímpar a deambular pela terra, rodeada de números pares.
13. Sou o número 13.

Eu sou como uma onda na costa, e desfaço-me sempre de encontro às rochas que encontro, e rochas são vocês, todas as pessoas da minha vida. Quanto mais me dou menos fica de mim...
Não há mesericórdia.
Não é preciso.
Quanto mais tento ir ao vosso encontro mais espuma me torno, fragmentos de mim que se dispersam, e de novo volto a reconstruir-me, devagarinho, procurando nos pedacinhos de mim a pessoa que fui para me tornar novamente no que sou.
Não sei se vai ser sempre assim...
Alguma vez as rochas se fundirão no mar?

Não sei nada, na verdade.
E no entanto, continuamente, incessantemente, vou continuar a despedaçar-me de encontro à costa, água e sal, maré após maré, onda após onda, até que não haja mais... um dia....

1 comentário:

Anónimo disse...

Poucas pessoas exploram este vocabulário da tristeza tão bem como tu...
Mas continuamente, incessantemente?
Não pode ser isso o que te está reservado...
Eventualmente, a maré há-de acalmar.
Acredita no que me tens feito acreditar...
É a tua vez de me ofereceres um sorriso. Pode ser?
Joana | Email | Homepage | 19.07.04 - 6:22 pm | #